quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu estar querrendo falar russa

Eu estar querrendo falar russa mas não estar conseguindo porfersor, então,  eu estar terreinando a sotaque. Que tal? A bonita meu sotaque?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Foi Deus quem fez você



Se foi Deus quem fez a gente eu não sei, mais que a música e o vídeo são maravilhosos são e nos eleva a alma.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vida no extremo

Peixes que habitam água fervente, animais que agüentam dezenas de graus abaixo de zero, bichos que não precisam beber nada. Conheça os inóspidos ambientes em que vivem os seres mais intrépidos do planeta

Rafael Kenski

Os seres humanos têm um gosto bastante peculiar. Sol, temperatura amena, ar fresco e bebidas refrescantes podem fazer a alegria de qualquer pessoa, mas seriam desagradáveis e até mortais para outros organismos. É que, na natureza, muitas espécies se especializaram em viver em ambientes tão diferentes do nosso que jamais se contentariam com sombra e água fresca. Para esses bichos, bons mesmo são lugares escaldantes, congelantes, com extremos de pressão, toxinas aos montes, falta de água ou de oxigênio. São os chamados seres extremófilos, os habitantes dos piores lugares do planeta.
Com nutrientes e espaços pouco explorados, os ambientes extremos são tentadores demais para que os seres vivos não descubram um modo de habitá-los. Mas, mesmo para os extremófilos, sobreviver nesses locais não é fácil. Aperte, esquente ou esfrie um pouco um organismo e muitos de seus sistemas param de funcionar: substâncias se concentram a ponto de destruir células, reações químicas deixam de acontecer e proteínas mudam de formato e perdem sua função.
Uma das maneiras de sobreviver a isso tudo é jogar na retranca e não encarar de frente as dificuldades – muitos deles "desligam" o metabolismo até que a situação volte ao normal. E olha que a espera pode demorar: esporos de bactérias achados em cristais de sal continuavam inteiros depois de 250 milhões de anos. Para alguns cientistas, é possível que eles nunca morram. "Se essas evidências se confirmarem, não há motivo para duvidar que esporos de bactérias possam ser imortais", afirma o zoólogo David Wharton, autor do livro Life at the Limits ("Vida nos Limites", sem tradução para o português). Esse, no entanto, é apenas um dos truques desses seres. A seguir, você conhecerá os piores ambientes e os mais intrépidos organismos do planeta.

Vidas muito secas
Os grandes desertos só são desertos na nossa imaginação. Não existe nesses locais nenhum terreno estéril: cada centímetro possui plantas, animais ou microorganismos. A dificuldade de se viver ali, como se sabe, é a escassez de água, um dos fatores mais essenciais à vida. Além de compor muitas moléculas, a água é o meio em que acontecem as reações químicas dos organismos.
A principal solução para escapar desse problema é fugir do calor. O maior refúgio do deserto é o subsolo, um lugar com bem menos sol e mais umidade que a escaldante areia da superfície. Em épocas de seca, um sapo do deserto de Sonora, Estados Unidos, se enterra a quase 1 metro de profundidade e permanece ali por até nove meses. Formigas e cupins, os principais invertebrados de muitos desertos, constroem a parte visível de seus ninhos em posições estratégicas para receber mais raios solares no início ou fim do dia, e menos quando o sol está mais forte. Os vegetais fazem diferente. As plantas do deserto têm de duas a seis vezes mais tecidos embaixo da terra do que em cima e, para aumentar suas chances de obter água, espalham-se por uma área enorme. Algumas chegam a lançar as raízes mais de 75 metros para os lados.
Quem quiser permanecer ativo durante os momentos mais secos precisa de algumas adaptações. O camelo é um animal valioso em desertos por viver até 15 dias sem beber em um calor de mais de 30 graus centígrados. Nos meses mais frios, ele retira toda a água que precisa dos alimentos que consome. O segredo é agüentar níveis de desidratação que matariam um ser humano e absorver o máximo de líquido quando tiver chance: ao encontrar água, ele pode beber 130 litros – ou uma banheira cheia – de uma só vez. Além disso, o pêlo reflete a luz solar, a urina é concentrada, cavidades no nariz absorvem a umidade do ar e, em vez de tentar esfriar o organismo, ele simplesmente deixa a temperatura do corpo flutuar.
Cada espécie da região tem seus artifícios para descolar mais água. Um besouro da Namíbia, por exemplo, possui cavidades em seu corpo capazes de coletar a umidade do ar. Outros insetos são capazes de agüentar altos níveis de desidratação – ou seja, continuar funcionando mesmo quando o sangue está muito concentrado. O extremo dessa habilidade está nos organismos em que o metabolismo pára porque o corpo desidratou quase completamente – o maior animal a conseguir esse feito é a larva da mosca Polypedilium vanderplanki, com meio centímetro de comprimento. Nessa espécie de hibernação forçada, a larva resiste a situações ainda mais extremas, como temperaturas acima de 100 graus centígrados ou abaixo de zero. A razão é que ela não tem água dentro do corpo para congelar ou ferver, mas isso não explica tudo. Ainda falta muito para entendermos todos os mecanismos que esses superseres utilizam para sobreviver a tamanha falta de água.

Virando gelo
Imagine morar em um lugar onde a temperatura média gira em torno de zero grau e você terá uma idéia do que é viver perto dos pólos. Para piorar, o frio não é o único problema da região: o ambiente tem alta incidência de raios ultravioleta e pouquíssima chuva. No deserto de Ross, a maior área da Antártida livre de gelo, não caiu sequer uma gota nos últimos 2 milhões de anos. Nas outras regiões polares, a água é até abundante, mas está congelada e, portanto, indisponível para os seres vivos. Mesmo assim, a vida está lá. Há, por exemplo, uma espécie de líquen na Antártida que continua a fazer fotossíntese em um frio de 10 graus negativos.
A estratégia de fugir das condições extremas funciona bem aqui – muitos bichos habitam as regiões mais frias apenas durante o verão. Pingüins e leões-marinhos, os maiores animais da Antártida, habitam e se reproduzem no continente, mas correm para o mar quando é preciso pegar comida ou fugir do frio (a água do mar que permanece líquida nunca está abaixo de 1,9 grau negativo). Os únicos animais que habitam o continente durante o inverno – acarinos e colêmbolos – não passam de 2 milímetros. A honrosa exceção fica para o pingüim-imperial, que passa o verão engordando e o inverno chocando os ovos de seus filhotes.
O grande perigo dessas regiões é congelar. Quando isso acontece, milhões de cristais de gelo se formam nos tecidos e separam as células. Além disso, rompem os vasos sanguíneos, o que significa que, ao descongelar, os tecidos ficam parecendo mingau. Os órgãos param e deixam de fornecer oxigênio ao corpo. Se isso não for suficiente para matar, à medida que a água se transforma em gelo, o sangue se torna muito concentrado e destrói várias células. Pense nisso se você tiver a intenção de se congelar numa câmara criogênica quando estiver à beira da morte.
Os animais maiores fogem desse risco migrando para o calor ou se aquecendo com camadas de gordura e pêlo. Mas como os pequeninos – que não podem viajar nem se proteger – fazem para sobreviver? O segredo é que a pequena quantidade de água desses organismos permanece líquida mesmo a dezenas de graus abaixo de zero. Isso acontece porque, para que o gelo se forme, é preciso que exista um primeiro cristal a partir do qual o resto da água congela. Esses seres eliminam de seu corpo substâncias que possam aglutinar o gelo, se protegem para evitar que a neve de fora invada seu corpo e ainda produzem substâncias anticongelantes. Manhas como essas são muito bem-sucedidas: uma mosca-do-ártico (Rhabdophaga strobiloides) agüenta até 56 graus abaixo de zero antes de congelar.
O problema é que a estratégia é arriscada. Basta um chacoalhão que forme o primeiro cristal e, pimba, o bicho vira gelo da maneira mais rápida e violenta possível. Por isso, algumas espécies preferem encarar o congelamento, mas de modo controlado e que garanta a sobrevivência ao derreter. A idéia é congelar lentamente para que o corpo se adapte e para evitar que o gelo invada o interior das células. Muitos desidratam os tecidos para diminuir a extensão do congelamento e evitar que os órgãos se destruam. Outros possuem proteínas que evitam que o gelo forme cristais muito grandes, que acabariam com algumas células. Com esses truques, a larva da mosca Chymomyza costata suporta até 100 graus negativos, enquanto um gafanhoto das montanhas da Nova Zelândia congela quase toda a água disponível em seu corpo.
As adaptações se sofisticam nas cinco espécies de sapo e duas de tartaruga capazes de agüentar o congelamento. A estratégia do sapo é liberar adrenalina, que acelera batimentos cardíacos para garantir o oxigênio para os tecidos. Também aumenta a glicose no sangue em até 200 vezes para diminuir a concentração de água no organismo. Dessa forma, ele lentamente se adapta à formação de gelo e ao derretimento, que pode levar um dia inteiro.

Sob pressão
Os seres vivos são como o ambiente de trabalho de qualquer empresa: precisam de um nível ideal de pressão para funcionar. Coloque no topo de uma montanha um animal acostumado a viver no fundo do mar e ele morrerá em segundos. Existem microorganismos capazes de sobreviver no vácuo e outros que vivem e crescem no ponto mais profundo dos oceanos, a nada menos que 11 mil metros de profundidade – um lugar onde a pressão é tanta que seria equivalente a ter um peso superior a mil quilos em cada centímetro quadrado do seu corpo.
Durante muito tempo, os cientistas imaginaram que o fundo do mar não tinha vida. Além da pressão, a região é longe da superfície e recebe dela pouquíssimos nutrientes. Foi só nos anos 60 que cientistas começaram a pesquisar o ambiente e perceber que havia vida por lá – e muita. Hoje, as apostas mais conservadoras sobre a diversidade no fundo dos oceanos avaliam que exista lá ao menos meio milhão de espécies (só para comparar, conhecem-se hoje 160 mil espécies marinhas). Mesmo o buraco mais profundo é habitado por bactérias, pepinos-do-mar e vermes. O fundo do mar passou a ser considerado o maior ambiente da terra.
Evitar ser esmagado pelo peso desse lugar é fácil – basta igualar a pressão interna e a externa – mas esse não é o único problema. Muitas das proteínas do nosso corpo são sensíveis à pressão e, além disso, algumas das reações químicas que ocorrem no nosso interior podem ser inibidas por tanto peso. Esse fatores forçam os organismos a desenvolverem um metabolismo diferente, com enzimas resistentes à pressão e membranas mais resistentes.
Existem duas formas de se conseguir comida por lá. A primeira é aproveitar os poucos nutrientes que afundam. A outra é fazer a própria matéria orgânica, como é o caso em um dos ambientes mais extremos que se conhece, uma espécie de filial do inferno. Essas regiões abissais, semelhantes a vulcões, jorram materiais superaquecidos, formando novos solos e separando as placas tectônicas. Ali, onde a água ultrapassa os 350 graus centígrados, vivem bactérias, moluscos gigantes, siris, peixes e vermes em forma de tubo com até 11,5 metros de comprimento. Esse povo todo sobrevive de uma fonte de energia bem pouco usual: os ferros e sulfetos que emergem junto à água quente. Bactérias presentes nesse ambiente conseguem reagir essas substâncias com oxigênio para obter energia e se desenvolver. Com essa habilidade, servem de base para todo o ecossistema. O problema é que, para conseguir essas substâncias, bactérias e animais precisam estar próximos das áreas mais quentes dos oceanos. Um desses seres, descoberto em agosto, é um tipo de bactéria capaz de crescer em temperaturas de até 121 graus centígrados, o que a faz a recordista de temperatura do planeta.
Parece o pior lugar do mundo, não? Talvez não, porque há outro, embaixo de seus pés, quase tão terrível. O subsolo reúne diversas bactérias, fungos e protozoários em profundidades que, estima-se, podem chegar a até 7 quilômetros. O estilo de vida é parecido: o calor é estúpido e a luz, inexistente. Os microorganismos chegam até lá pelo movimento da água e se fixam em minúsculos poros da rocha. Em terrenos mais recentes, eles vivem de decompor matéria orgânica enterrada há milhões de anos. Nas profundidades maiores, a única solução é apelar para o truque de decompor ferro e sulfetos. Algumas dessas comunidades podem ter se isolado da superfície há muitos milhões de anos. Por contar com poucos nutrientes à sua volta, elas se desenvolvem de forma muito, muito lenta, talvez se reproduzindo uma única vez em algumas centenas de anos. Mesmo com tanta dificuldade para sobreviver, o ambiente é tão grande que, para alguns cientistas, eles podem ser numerosos a ponto de rivalizar com a quantidade de matéria viva presente na superfície.

Perigo em toda parte
Não é preciso ir longe para achar ambientes extremos. Existem em todo canto lugares ácidos ou alcalinos demais, com radioatividade ou sem oxigênio, que colocam desafios à vida – e que são habitados. O telhado de uma casa, por exemplo, pode ter um enorme calor durante o dia e geadas durante a noite. Apesar de receber chuvas, os líquidos logo escorrem e o lugar volta a ser um deserto. E, no entanto, eles abrigam insetos, musgos e vários outros seres.
Lugares inóspitos podem estar ainda mais perto. Seu estômago, por exemplo, é bem ácido. Uma camada de muco nos protege de seus efeitos, mas a maioria dos seres é destruída ao dar um rolê por ali. No entanto, todo mundo que já teve uma doença do sistema digestivo sabe que alguns micróbios passam ilesos pelos ácidos. A estratégia mais comum desses parasitas é atravessar o estômago na forma de cistos, protegidos por uma casca, e só se desenvolver quando já estiverem fora dali. Há também bactérias que vivem no próprio ácido, como essa aí ao lado.
Dependendo de como olharmos, as condições em que vivemos são bem extremas e matariam boa parte dos animais dessa matéria. O nosso clima destruiria as bactérias dos vulcões submarinos e faria ferver alguns bichos polares. A pressão explodiria muitos dos seres do fundo dos oceanos. E, por fim, existem micróbios que seriam envenenados por oxigênio. O contato com esse gás produz substâncias tóxicas que seriam fatais se não tivéssemos enzimas que lidam com elas. No início da vida, quando os microorganismos não estavam acostumados com oxigênio, um ambiente como o nosso seria fatal. E, hoje, esse gás é vital para os animais. Assim como adquirimos a habilidade de respirar, os locais mais inóspitos podem ser confortáveis a quem desenvolve meios de sobreviver a eles. Se dermos tempo e chance para a evolução, poucas coisas serão realmente extremas para os seres vivos do planeta.

• Saguaro cactus
• Vive entre Estados Unidos e México
• Consegue armazenar até 8 toneladas de água no organismo. Ao contrário de outras plantas, ele guarda o gás carbônico que produz na respiração e o utiliza durante a fotossíntese. Eliminar essa substância no ambiente implicaria perder água junto

O estudo de extremófilos já gerou muitos produtos e promete ainda mais

Biologia molecular
• Algumas das técnicas mais usadas pelos geneticistas são feitas em alta temperatura e usam enzimas de um micróbio que vive em fontes térmicas

Alimentos
• Enzimas de animais que se congelam ou desidratam sem danos podem levar a meios de conservar comida por períodos mais Longos

Agricultura
• Além de conseguir armas para destruir as pestes mais resistentes, poderíamos fazer plantações mesmo em climas e terrenos inóspitos

Medicina
• O estudo dos animais extremos pode levar a novas formas de se livrar de parasitas e também a métodos de conservar órgãos para transplante

Entretenimento
• Artêmia, um camarão que agüenta níveis absurdos de desidratação e de salinidade, foi vendido como brinquedo, com o nome de "Kikos Marinhos". Era só acrescentar água que o bicho nascia

• Raposa do Ártico .
• Vive próximo do Pólo Norte
• São tão bem protegidas que podem ficar até uma hora expostas a um ambiente de 80 graus negativos sem que a temperatura de seu corpo comece a baixar. Só aumentam a produção de calor quando a região fica abaixo de 40 graus negativos

• Helicobacter pylori
• Vive no estômago humano
• Cresce em meio à extrema acidez do nosso estômago. Possui enzimas que convertem seus detritos orgânicos em substâncias alcalinas e, com isso, neutraliza os ácidos na região à sua volta

Na livraria:

Life at the Limits
David A. Wharton, Cambridge University Press, 2002

A Desert Calling
Michael A. Mares, Harvard University Press, 2002

Super - edição 194

Certo por linhas tortas

Movido por um instinto de ordem e perfeição, o ser humano procurou encontrar a simentria... ... na natureza. E, quanto mais busca, mais descobre que o Universo, na essência, é assimétrico

Bruno Leuzinger

Diante do espelho, a menina não contém o espanto ao ver aquele mundo tão semelhante ao seu. À primeira vista, tudo parece idêntico. Mas pouco a pouco as diferenças surgem aos seus olhos. Por exemplo, nos livros do lado de lá, as imagens aparecem ao contrário. As palavras são escritas de trás para a frente. Quando atravessa o espelho, ela descobre que naquele outro universo tudo é diferente, as regras são totalmente distintas, nada é igual.
Esse cenário absurdo, descrito em Através do Espelho, de 1871, saiu da imaginação de Lewis Carroll, autor também de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas. O trecho é recontado por Chris McManus em seu livro Right Hand, Left Hand – The Origins of Asymmetry in Brains, Bodies, Atoms and Cultures ("Mão Direita, Mão Esquerda – As Origens da Assimetria em Cérebros, Corpos, Átomos e Culturas", sem versão em português). Psicólogo da University College de Londres, McManus chama atenção para um detalhe curioso. Antes de iniciar sua jornada, Alice se pergunta se o leite do lado de lá seria bom para beber. Carroll não oferece solução para sua personagem, mas a ciência, sim. A resposta é não – o leite de lá não presta. "Pelo menos não se bebido do lado de cá", diz McManus.
Para entender por quê, é preciso primeiro explicar o que é simetria. Não é difícil. Um objeto simétrico é aquele que é idêntico ao seu reflexo. Já um objeto assimétrico difere de sua imagem refletida. O historiador de arte Dagobert Frey definiu as mesmas palavras com um pouco mais de estilo: "Simetria significa descanso e ligação, e assimetria, movimento e desatamento; uma a ordem e a lei, e outra a arbitrariedade e o acidente; uma rigidez formal e repressão, e outra vida, prazer e liberdade".

Beleza é verdade?
O corpo humano apresenta o que se chama de simetria bilateral – é possível traçar um eixo vertical bem no meio e cada metade será igual à outra. Ou quase. Nossa concepção de beleza está associada a esse princípio. Pessoas mais harmoniosas fazem mais sucesso com o sexo oposto, como provaram dois pesquisadores da Universidade do Novo México, Estados Unidos. Randy Thornhill e Steven Gangestad mediram as proporções de centenas de universitários, calculando a largura das mãos, pulsos, cotovelos, tornozelos e pés, além da largura e comprimento das orelhas. Os universitários preencheram um questionário sobre comportamento sexual. Thornhil e Gangestad concluíram que os rapazes mais simétricos haviam tido sua primeira relação três ou quatro anos antes da média do grupo.
O conceito de simetria, como quase todos, surgiu na Grécia antiga, justamente como uma tentativa de explicar a beleza por bases racionais. Os gregos não eram dados a muita subjetividade – eles gostavam de achar que havia lógica por trás de tudo. Por isso, conceberam a idéia de proporção áurea, uma relação matemática segundo a qual a divisão da medida do pedaço maior pelo pedaço menor de uma linha é igual à divisão da linha inteira pelo pedaço maior. E procuravam por essa proporção mágica em tudo, inclusive em seres humanos. Essa noção de harmonia, de equilíbrio, de proporção – de simetria – foi perseguida ao longo dos séculos no Ocidente todo, altamente influenciado pelos gregos. Inúmeros artistas se dedicaram ao estudo do tema, do italiano Leonardo da Vinci ao holandês M.C. Escher. A arte religiosa constantemente fez uso das proporções simétricas, como observou Hermann Weyl em sua clássica obra Simetria. "Sempre que Deus ou Cristo são representados como símbolos imortais da verdade ou da justiça, são apresentados em posição frontal, e não de perfil", escreveu. De frente, os homens são simétricos. De lado, não (as costas não são iguais à frente).
"Simetria enquanto verdade e beleza é uma ficção", afirma McManus. "Simetrias podem revelar verdades e verdades podem ser belas, mas essa relação não é obrigatória", diz. O professor britânico não é fã de simetrias. Ele prefere se dedicar à investigação da assimetria na natureza e na cultura. Seu livro é um manifesto a favor da diferença, um foco de luz sobre o abismo que existe entre a mania humana de buscar padrões e o mundo como ele realmente é, todo torto. "Na verdade, a própria vida é assimétrica", afirma.
A descoberta fundamental de que a assimetria é essencial à vida aconteceu em 1848, quando o cientista francês Louis Pasteur apresentou sua pesquisa sobre ácido racêmico na Academia de Ciências de Paris. O ácido racêmico é uma substância sintética opticamente inativa – ou seja, não causa efeito sobre a luz, não desvia seus raios e, portanto, é muito transparente. Com a ajuda do microscópio, Pasteur descobriu que o ácido racêmico é composto por dois tipos de pequenos cristais, um a imagem refletida do outro. Ambos eram opticamente ativos – ou, em outras palavras, faziam os raios de luz desviarem. Os que giravam a luz para a direita, no sentido horário, foram chamados de dextrógiros, enquanto os outros, que provocavam o efeito contrário, são os levógiros. Juntas, as duas formas de cristais se contrabalançam, tornando o ácido racêmico opticamente inativo. Ou seja, a substância de Pasteur, apesar de ser absolutamente simétrica na aparência, é completamente assimétrica quando vista bem de perto.
O cientista mostrou que moléculas podem ser dextrógiras ou levógiras – ou, para simplificar, destras ou canhotas. Como parafusos, cada uma delas gira apenas para um lado. O mesmo acontece com as moléculas de DNA e também com os aminoácidos, que compõem as proteínas. Algumas moléculas são simétricas e não há distinção entre suas duas formas. Mas grande parte é assimétrica. É por isso que o leite de Alice, do outro lado do espelho, não seria bom de beber aqui – porque suas proteínas seriam da forma oposta à que estamos acostumados. O organismo não conseguiria digeri-las e isso provocaria no mínimo uma boa diarréia. Já se Alice bebesse a cerveja de lá, ficaria embriagada do mesmo jeito, porque a molécula do álcool é absolutamente simétrica (o gosto da cerveja, porém, seria diferente, porque vários dos componentes que afetam as papilas gustativas são assimétricos).
A maioria das moléculas orgânicas assimétricas pode ser criada em suas duas formas no laboratório – destras ou canhotas –, mas ocorrem naturalmente em apenas uma delas. No corpo humano, os aminoácidos são do tipo canhoto. E que diferença isso faz? Toda. Começa pelo seu coração. O músculo que bombeia o sangue fica virado para a esquerda – não só no homem como em quase todos os vertebrados. Nem sempre foi assim. No início do desenvolvimento embrionário, há apenas um tubo reto, no meio do corpo, por onde fluem as proteínas que vão formar o coração. A "correnteza" desse fluido é determinada pela presença de monocílios, organelas celulares cujos minúsculos pêlos funcionam como hélices, girando para empurrar as substâncias químicas. Acontece que os pelinhos rodam todos no sentido horário, o que leva as partículas a flutuarem em direção ao lado esquerdo. Caso os monocílios fossem compostos por proteínas destras, os cílios girariam no sentido contrário, e o coração bateria no lado direito.
Sua localização voltada para um dos lados torna o coração uma rosca assimétrica e isso é uma vantagem, porque permite que o sangue seja bombeado em espiral, o que diminui a turbulência e facilita o fluxo. "A simetria é uma vantagem para estruturas simples. No entanto, quando o grau de complexidade aumenta, a assimetria passa a ser necessária", afirma McManus, como que confirmando a história de Alice, que descobre a assimetria só quando se aprofunda no assunto. A regra vale para estruturas orgânicas e para mecânicas. Por fora, um carro é bastante simétrico, com duas rodas de cada lado, do mesmo tamanho. Não fosse assim, seria difícil dirigir em linha reta. Mas por dentro o volante e os pedais ficam de um único lado. Na parte do motor, tudo também é assimétrico. O corpo humano funciona de forma idêntica. Sem duas pernas do mesmo tamanho, andar seria muito mais difícil. Mas, no interior, somos bem diferentes de nossa imagem no espelho.

Na cabeça também
Com seus dois hemisférios aparentemente idênticos, o cérebro também esconde uma assimetria. Em 1863, 15 anos depois da divulgação do trabalho de Pasteur, outro francês, o médico Paul Broca, revelou que o hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo e vice-versa. Mais que isso: Broca percebeu que cada hemisfério executa funções distintas. Ele chegou a essas conclusões depois de examinar três dezenas de cérebros de pessoas que haviam sofrido derrame cerebral resultando em paralisia do lado direito do corpo e perda da linguagem. Constatou-se que todos apresentavam lesão no hemisfério esquerdo. Atualmente, sabe-se que na maioria dos seres humanos este é muito importante para a linguagem e o intelecto, enquanto o hemisfério direito trabalha mais com as imagens e a intuição.
O que diferencia os hemisférios parece ser a velocidade das conexões nervosas. Em um estudo realizado pelo professor Michael Nicholls, da Universidade de Melbourne, Austrália, voluntários escutavam uma gravação com ruídos como os de um rádio fora de sintonia. No meio do barulho, havia um breve instante de silêncio, de décimos ou até centésimos de segundo. Usando o ouvido direito (e portanto o hemisfério esquerdo), os voluntários conseguiam perceber intervalos até 15% mais curtos do que com o outro ouvido. Para uma atividade como a fala, tão dependente da veloz coordenação entre o cérebro e as cordas vocais, qualquer pequena diferença é crucial. "A linguagem pode estar no hemisfério esquerdo porque aquele hemisfério trabalha mais rápido."
O ato de arremessar uma pedra ou uma bola de tênis também requer uma perfeita sincronia entre cérebro, braço e mão. Se arremessado frações de segundo antes ou depois do tempo certo, o objeto não atingirá o alvo. Assim, a função motora igualmente costuma ficar localizada no hemisfério esquerdo. McManus propõe que o cérebro é assimétrico por causa de uma mutação, ocorrida há milhões de anos, do gene que determina o lugar do coração. Esse mesmo gene mutante seria responsável por definir aquela que é talvez a assimetria mais visível para nós: a que separa destros de canhotos.
Pessoas que escrevem e realizam quase todas as tarefas com a mão direita representam cerca de 90% da população mundial. Os destros sempre foram maioria esmagadora, como indicam achados arqueológicos (como ferramentas e armas rudimentares) e a análise de obras de arte em que pessoas são retratadas usando uma das mãos. A atribuição de valores para direita e esquerda também é muito antiga, à primeira sempre cabendo um conceito positivo e à segunda, um negativo – o que não é surpresa, já que vivemos em uma sociedade de destros. Do latim dexter (direita) veio o termo "destreza", que significa "habilidade", "aptidão". Já sinister (esquerda) originou "sinistro", ou "mau", "fúnebre". No português, "direito" também é sinônimo de "correto", "justo". O mesmo acontece no inglês (right) e no alemão (recht). Já o termo francês gauche, além de "esquerdo", significa "desajeitado", "torto".

Ovelhas e bode
Essa distinção vem de tempos bíblicos, como se pode comprovar na Bíblia. O Evangelho de São Mateus diz que, no Dia do Juízo Final, Jesus Cristo retornará e que à Sua direita ficarão as "ovelhas", aqueles que encontrarem a redenção, enquanto à Sua esquerda estarão os "bodes", pecadores condenados à danação eterna. Na Europa Medieval, um dos "indícios" que poderiam levar uma mulher a ser identificada como bruxa (e a enfrentar a morte certa na fogueira) era o fato de ser canhota. E, até o século 20, muitas escolas obrigavam os alunos a aprender a escrever com a mão direita – sob ameaça de castigos para os rebeldes.
Hoje, diminuiu o preconceito contra quem tem a mão esquerda como a mais hábil, mas os resquícios ficaram em expressões como "entrar com o pé direito", que significa começar com sorte, ou "acordar do lado esquerdo da cama", para descrever alguém de mau humor. Nos aspectos práticos do cotidiano, os destros continuam amplamente favorecidos. São sempre eles que os projetistas têm em mente quando criam o design de uma ferramenta. A maioria das pessoas não percebe justamente porque é destra, mas, para um canhoto, utilizar uma tesoura convencional é um sacrifício. A razão disso é que elas são assimétricas, perfeitas para serem manuseadas com a mão direita. Parafusos também são feitos para destros, girando sempre no sentido horário.
São casos em a assimetria pode atrapalhar, mas entende-se que seja assim para beneficiar uma maioria. Atualmente, já é possível achar produtos especiais para canhotos. Entretanto, em outras situações, é o exagero de simetria que acaba sendo prejudicial, e dessa vez a intenção é simplesmente a de satisfazer uma compulsão estética. Consideradas talvez mais bonitas, maçanetas e torneiras redondas, perfeitamente simétricas, são muito comuns. Porém, abrir a porta ou fazer a água correr na pia, com tanta simetria, fica bem mais difícil, principalmente se você estiver carregado de sacolas de compras ou com as mãos ensaboadas.
Para o professor Celso Wilmer, do Departamento de Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, há hoje uma tendência de privilegiar a forma sobre a função. "É tudo uma procura por beleza, uma vontade de querer eliminar o diferente. Acho isso muito cretino. Simetria não é um bem em si. A funcionalidade de um produto deve ser examinada", diz. A queixa também se estende a aparelhos eletrônicos. Nos painéis dos videocassetes, os botões são todos parecidos, do mesmo tamanho e dispostos lado a lado. É fácil para alguém se confundir, apertar o botão de gravar por engano e apagar sem querer algo importante. Celso queixa-se dessa tentativa de disfarçar as teclas. "Botão não é verruga", afirma.
No fim, tudo faz parte do mesmo e antigo desejo do homem de encontrar simetria em todo lugar. E, se não a encontra, então ele a cria. "Nós procuramos por simetria em parte porque ela é bonita. A maioria das pessoas não usa calças com uma perna azul e outra verde", afirma McManus. Mas não é só isso. "As pessoas também procuram por simetria porque ela é reconfortante. Simetria implica um padrão. Quando você identifica o padrão, significa que você entendeu alguma coisa", diz. E a sensação de entender torna essa vida confusa bem mais suportável.
Essa necessidade de ordem e beleza leva a armadilhas que enganam até os céticos cientistas. Em 1956, os físicos sino-americanos Chen Ning Yang e Tsung-Dao Lee encontraram uma assimetria na essência da matéria que permeia todo o Universo. A comunidade científica os massacrou, e Lee e Yang foram desacreditados por gente do quilate do austríaco Wolfgang Pauli, vencedor do Prêmio Nobel, um dos físicos mais importantes do século, que escreveu uma carta aos dois afirmando duvidar da descoberta.
Lee e Yang tiveram a ousadia de propor que havia assimetria em uma das forças que mantêm o Universo no lugar. Há apenas quatro forças interagindo com toda a matéria e toda a energia que existe – a força eletromagnética, a força gravitacional, a força forte e a força fraca (essas duas últimas, pouco conhecidas, regem a atração e a repulsão das minúsculas partículas subatômicas). Em relação às três primeiras, nunca houve qualquer dúvida – elas são absolutamente simétricas. Cada uma das subpartículas atômicas envolvidas nessas forças teria exatamente a mesma aparência se fosse refletida num espelho.
Pois os dois cientistas chegaram à conclusão de que isso não se aplica à força fraca. É a força fraca que faz com que, dentro do núcleo de um átomo, um nêutron possa perder um elétron e virar um próton – num processo chamado "decaimento", que está por trás da radiação atômica, das explosões nucleares e da geração do brilho das estrelas. O que Lee e Yang mostraram é que, nesse processo, uma partícula minúscula chamada neutrino gira de um modo assimétrico. Se refletirmos a força fraca num espelho, o neutrino vai aparecer rodando para o lado errado. Soou uma heresia para os cientistas, tão apaixonados pela perfeição. Mas estava correto. Tanto que os dois físicos ganharam o Prêmio Nobel de 1957.
"Cada vez que se pensa que a assimetria pode ser explicada por meio de alguma simetria escondida, cava-se mais fundo e acaba-se encontrando mais assimetria", diz McManus. O professor britânico defende a tese de que a força fraca pode estar no princípio de todas as outras assimetrias. A descoberta dos sino-americanos significa que o átomo não é simétrico, o que faz com que moléculas destras e canhotas sejam fundamentalmente diferentes – afinal as peças de que são compostas estão viradas para lados diferentes. No começo do Universo, qualquer pequena distinção poderia tornar-se uma vantagem e levar ao predomínio de uma das formas de aminoácidos e à quase extinção da outra.
Na Terra, realmente, há um excesso de aminoácidos canhotos. Mas a Terra é um pedacinho muito pequeno do Universo. Um pré-requisito para a teoria de McManus estar certa é que esse excesso se repita em toda parte. A análise de meteoritos que caíram em nosso planeta parece confirmar isso. Ou seja, dá a impressão de que é mesmo verdade que o Universo, ao contrário do que queriam os gregos, tão obcecados com a perfeição, é fundamentalmente assimétrico. Mas é cedo para ter certeza disso.
Por enquanto, os físicos podem apenas especular – verbo, aliás, mais do que apropriado para o tema. A palavra vem do latim speculum e originalmente significava observar o movimento dos astros no céu noturno com o auxílio de um espelho.

Na livraria:

Right Hand, Left Hand – The Origins of Asymmetry in Brains, Bodies, Atoms and Cultures
Chris McManus, Harvard University Press, EUA, 2002

Simetria
Hermann Weyl, Edusp, São Paulo, 1997

Na internet:
http://www.righthandlefthand.com/

Super - edição 194

Por que a chama do fogão ilumina menos que a da vela?

Prova de Fogo

Maria Dolores
A resposta está na cor de cada chama: por ser amarelo, o fogo da vela ilumina mais que o do fogão a gás, que emite principalmente luz azul.
Isso porque o olho humano está adaptado a enxergar melhor durante o dia.
Assim, desenvolveu maior sensibilidade às luzes com cores mais abundantes no espectro solar. "Como o Sol emite muita luz na faixa do amarelo e do verde, os nossos olhos também são mais sensíveis a estas cores", afirma Cláudio Furukawa, professor de física da USP.
Outro fator para enxergarmos pouco a chama do fogão é que a luz azul se dispersa com facilidade pelo ar, enquanto a amarela permanece concentrada por mais tempo. "Vemos a luz azul do fogão somente quando olhamos diretamente para a chama, pois ela se espalha pelo ar com mais facilidade. A luz amarela dispersa menos e pode chegar facilmente às paredes, de onde é refletida para os nossos olhos", diz Wagner Figueiredo, físico da Universidade Federal de Santa Catarina.

Super - edição 194

E se... a Terra girasse para o outro lado?


Lia Hama

Você se lembra do filme Super-Homem, em que o herói faz a Terra girar no sentido contrário e, com isso, volta no tempo? Lembra? Pois esqueça. Isso é Hollywood. Se fôssemos levar a sério a hipótese de que a Terra girasse ao contrário, a principal mudança seria em outros tempos: o tempo frio, o tempo quente, o tempo chuvoso e todos os outros que caracterizam o clima. Sim, a rotação da Terra tem influência direta sobre as condições climáticas.
No Rio de Janeiro, em vez de biquínis teríamos casacos à beira-mar. Em Santa Catarina, em vez de golfinhos, leões-marinhos, talvez orcas. Assim seriam os cartões-postais do Brasil. Tudo isso porque a rotação da Terra tem influência direta no movimento das correntes de ar próximas ao oceano e, conseqüentemente, das correntes do oceano. E essas correntes oceânicas são responsáveis em grande parte pelo clima terrestre. São elas os principais veículos de distribuição do calor absorvido pelos trópicos. Para se ter uma idéia, as correntes de água quente liberam no Pólo Norte uma energia equivalente a 30% da energia solar que atinge a terra dos esquimós. O contrário também é verdade, ou seja, elas carregam frio polar para os trópicos, equilibrando o clima planetário.
Se a Terra girasse no sentido contrário, as correntes oceânicas também se inverteriam. "Isso teria um impacto climático decisivo", diz Ricardo de Camargo, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (leia algumas mudanças no infográfico ao lado).
Se o mar e os ventos corressem em sentido contrário, a história humana seria outra, também. Para ficar em um exemplo: foi na crista dos ventos e das correntes oceânicas que correm da costa africana para o Brasil que Cristóvão Colombo chegou ao novo mundo. Se a corrente fosse contrária, os europeus precisariam esperar que a tecnologia naval se desenvolvesse um pouco mais para se aventurar pelo Atlântico.
Para entender o movimento de rotação da Terra é preciso voltar às origens do sistema solar. Há cerca de 5 bilhões de anos, o Sol era cercado por uma grande nuvem giratória de gás e poeira. Ao longo de milhões de anos, o material disperso nessa nuvem foi se aglomerando e formando os oito planetas vizinhos da Terra. Por isso, todos seguem o mesmo movimento da nuvem que lhes deu origem, com exceção de Vênus, Urano e Plutão, que giram em sentidos diferentes, por razões variadas. No caso de Vênus, uma das explicações é que seu eixo teria virado de cabeça para baixo sob a força de atração de outros planetas, segundo Sylvio Ferraz-Mello, professor do Departamento de Astronomia da USP. Urano os cientistas acreditam que se formou por dois planetas que se chocaram. A colisão teria dado origem ao novo movimento. Já sobre Plutão sabe-se muito pouco e não há dados disponíveis para entender a rotação anômala.
Mas não só o clima mudaria. Se a Terra girasse para o outro lado, o ano teria dois dias a mais. Isso ocorreria porque cada dia seria quase oito minutos mais curto (veja quadro ao lado), ou seja, a Terra daria mais voltas em torno de si mesma até completar uma volta completa em torno do Sol.
O conceito do que é oriente e ocidente, ligado ao local onde o Sol nasce e se põe, também se inverteria. Pois o Sol, assim como a Lua e as estrelas, nasceriam do lado oeste (atual Ocidente) ao invés do lado leste (atual Oriente) do globo. O Japão mudaria de nome. A palavra Japão vem do chinês jih-pun ("Sol nascente", origem do sol), que é a forma abreviada de jih-pun-kuo ("país da origem do Sol"), nome pelo qual os chineses designavam seus vizinhos à direita. No novo cenário, seríamos nós os orientais.

As correntes oceânicas se movem no sentido anti-horário no hemisfério norte e no sentido horário abaixo da linha do Equador. Se a Terra girasse ao contrário, as correntes também se inverteriam.

Sardinhas congeladas
O litoral brasileiro seria banhado por águas frias e teria um clima semelhante ao da costa do Chile, hoje. Teríamos menos gente na água, mas mais peixes

Fados ao vento
No Atlântico Norte, os ventos soprariam para leste e empurrariam sobre Marrocos, Portugal e Espanha as tempestades tropicais e furacões que hoje sacodem o Caribe

Campina verdejante
O deserto do Saara, se existisse, seria muito menor, pois o ar úmido e quente do Atlântico seria soprado diretamente sobre o norte da África, levando muita chuva para o interior do continente

Como é
Quando ela completa o ciclo, o ponto A ainda está às escuras, porque o planeta também girou em torno do Sol. São precisos outros 4 minutos de rotação para que o Sol alcance o ponto A. Por isso o dia tem 24 horas

Como seria
Se a Terra girasse no sentido inverso (na mesma velocidade), quando ela completasse um ciclo o ponto B já estaria iluminado há 4 minutos, ou seja, o dia duraria 23 horas e 52 minutos, oito minutos a menos que hoje

1 - Momento zero
Chamemos de A e B os limites da área iluminada pelo Sol em um dado momento

2 - 23 horas e 56 minutos depois...
... a Terra deu uma volta completa em torno de si mesma. Mas o resultado disso depende do sentido da rotação